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domingo, 2 de dezembro de 2012

Bola de chutar. Uma conversa entre moços. Intenção e quereres.

Os moços conversavam sobre bola. Sobre um jogo de bola. Um jogo de bola que faz parte da formação mental de muitos. Uma loucura. É isso mesmo: uma loucura. Não a bola, mas o que corre em torno dela.
Nelson Rodrigues foi talvez o seu melhor tradutor. João Saldanha vinha junto. Armando Nogueira por ali também. Esses senhores, que cometeram o erro de falecer, conseguiam enxergar um jogo que não havia para maioria. Não eram somente românticos idealistas ou mitômanos ( mas quem é que não quer maior precisão, a resposta melhor, a tonalidade  mais bonita, o gosto saboroso e uma pitada de mentirinha ?),  buscando aperfeiçoamentos através da fala sobre o que se passou e o que poderia ter sido. Aqui se tem uma afirmação ou ainda questionamento? Não se sabe a resposta - e talvez seja para não se saber-,  o que não invalida a afirmação apostada. Tampouco idealistas , mas talvez iluministas - esses nobres senhores- que se ocupam também das sombras.O verbo aqui  insiste em se presentificar, já que autores desse calibre costumam não desaparecer. Sabem da vida com seus infinitos personagens. Por isso, há a vã, não menos heroica,  tentativa de acrescentamentos a cada frase, a cada texto, a cada comentário. Não há tampouco a verdade, a resposta derradeira e única para tudo.
Num tribunal esportivo já se reconheceu que muitos atores jogam o jogo dos moços. Do menino de calça curta ao árbitro. Há o moço agitado, fanático, que não torce. Ele só projeta o que tem de pior. O que deveria ser um 'hobby' tão somente - e um 'hobby' pode ser algo sério se houver seriação, sequência- transforma-se em barbárie, racismo. Em outras tribunas, não menos importantes, necessita-se da indagação cafajeste do 'jurar dizer a verdade ou 'nada além da verdade'. E qual seria ela? Conjectura-se tão somente algo que possa dar conta, dar cabo, do que está à nossa frente, ao nosso lado.  É consenso que existem evidências, certas provas mais contundentes, mas a verdade e ainda por cima para além dela? Não há nada para além de coisa alguma que não seja tudo o que se apresenta como está. Só que esquecemos sempre que tem muito mais.E não está aquém ou transcendendo esse aquém. Simplesmente , mas é dificílimo de entubar a ideia e mais ainda o seu viver - está por aí. Não se computa por que recai na nossa inadimplência ignorante. Daí a importância das lentes que constituem um olhar mais sóbrio, límpido. As lentes de Nelson e de outros tantos.
Relembra-se de Proust - um outro gigante e que por certo detestava  aquela jogo de bola que não havia em seu tempo achado- e que de tão alérgico ( haja sacrilégio!)  buscava com descrições minuciosas condensar tudo o que buscava exibir, dizer, num laço de fita cor de rosa de alguma madame, em algum salão mundano de Paris, início do século passado. Passava páginas, provavelmente anos, o que significa  a sua existência, a tagarelar como poucos sobre o tal laço de fita que condensava quase tudo sobre as personas envolvidas naquela saga de 7 volumes. Mais qual personagem? Pertencia a um deles especificamente? Ponto para Marcel, pois a confusão, um estranhamento proustiano- hiper realista, emergia. O laço já não tem mais uma cor e as personas rostos diversos. E o tempo perdido foi redescoberto. Logo, está de novo se perdendo. Passando.....
Será que essa turma acima mencionada marcaria uma penalidade baseada na intencionalidade de quem cometeu a infração? Teve a intenção ou não? Eis a questão da estupidez. Até porque sabemos que de boas intenções os infernos se abastecem. Portanto, tentam complicar as regras, os códigos, esse imensurável campo de anotações que também se chama simbólico. O curioso é que a cultura anglo-saxônica adota essas mesmas regras para o jogo dos moços com bolas de chutar. E a cultura jurídica deles é bem distinta do juridicismo romano. O romano - e aí nesse caso o juridicismo vai para o espaço da arquibancada-, não existe ( estaria denegado?), já que a interpretação passa a valer mais do que os fatos. Logo, não há juridicismo nesse caso. A regra é clara, tal como avisa um ex-apitador de jogo para meninos , e também meninas, com a bola de chutar. Se os fatos trazem mais confusão do que esclarecimento é porque a ordem do jogo é essa no momento, ou seja, a da confusão. Não nos preocupemos, pois não se procura com isso tudo que se diz aqui defender uma anarquia. Anarquia é impossível até porque é mal educada, incivilizada, burra. A tal barbárie como que muitos no jogo de bola de chutar, de bater, de socar, de fazer política, agem.
Recusa-se ainda hoje - e a temporalidade que descreve a realidade das rugas e dos brancos pelos que passam a fazer companhia no corpo, na carcaça, que se enfraquece-, aceitar o fato bruto de que muitas das ideias- de um mesmo jogo com diferentes pontos de vista-, e pelas quais se perdeu sangue e até a vida ruíram. Acabou. Sofreu acréscimos ou então transformações radicais. Portanto, outra coisa virou.
Os tais moços prosseguem na conversa de tentar dizer para um e outros que os seus pontos de vista (ou seria de cegueira?), suas preferências, seus gostos, sejam melhores, mais relevantes, mais campeão. Todos acham muitas coisas. Cheios de opiniões. E falam através de convicções que nada mais são do que suposições, intuições, e que não devem ser desprezadas porque falam apenas das  razões. Quão difícil é supor que a maluquice de outrem é tão ou menos maluquice que as nossas. E haja maluquice para não parar de correr atrás da bola de chutar dos moços, que ao menos numa mesma pelada, possam considerar afetos comuns.
Aqueles moços de ainda há pouco trocam de papéis, telefones, informações. Combinam o novo encontro com os uniformes de gala. Seus clubes, suas apostas. Cada um com o seu cada qual. E ninguém se convenceu de que esse cada qual para cada um é a melhor escolha do que a outra. E não tem nada por detrás: nenhum homúnculo-sujeito suposto pelo  fato de que ali não houve acordo entre os que conversam, discutem, aqueles que se curtem. Apenas fatos, relatos, tesões, informações e quereres.



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