Assista, risível e tristonho, o documentário sobre aquele que se pensava príncipe das Alagoas. A turminha dele, lá de Brasília, eu até conheci quando por lá morei nos anos 80. Era uma outra cidade. Poderia se chamar, à época, ' A Corte'. Aliás, a boate badalada, que moleques menores de idade ( alguns com automóveis a postos e sem habilitação , confesso o delito) ficava num Hotel ( Saint Paul ) e era ótima... Senadores, deputados e afins rebolavam por lá.

O dono do hotel, amigo muito próximo do 'Príncipe' , de santo nada tinha também. O BRASIL, perdão pelo mau jeito, é lindo e ,,,tosco

 Minha primeira paixão tinha 9 anos e eu 8. Coleguinha de colégio, aqui no bairro. Colégio se chamava Chapeuzinho Vermelho ( ai mamãe...) mas o Lobo Mau era o objetivo pedagógico por certo.

Maria Rosa era de uma família de botafoguenses , o Flamengo era muito freguês do Botafogo nesse período, e morava numa casa na Rua Nascimento Silva.

Numa festinha infantil, comidinhas frugais, avancei o sinal na direção de Maria Rosa.

- Pode me dizer uma coisa?- perguntei-lhe com o coração na jugular.

- O quê? - fez carinha de pouca empatia ,mas permanecia linda.

- O que você mais gosta de fazer na escola?

- Bagunça.

Me apaixonei perdidamente.

 E o cidadão fingindo 'francesices ' querendo comer 'croissant 'no Maracanã , numa noite de jogo do Flamengo e com mais de 70 mil tarados no estádio.. Pode isso, Arnaldo?

 

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A Revolta dos Sungas Pretas.

Marcelo me conhecia desde o primeiro berro. Nasci carequinha, imaginem essa raridade, e ele já não tinha cabelo fazia muito tempo. 

Frequentei seu consultório até os meus vinte anos de idade. Consultório pediátrico. E a carinha das crianças e  dos bebês, espantados ao ver o bebê gigante? Que diabos essa figura faz por aqui? Impagáveis as tais carinhas. Assim como ficaram espantados, aqueles senhores na sala de espera, de um consultório geriátrico. Mais ou menos por volta dos 30 anos, mudava de especialista e ganhava novos amiguinhos. Dessa vez, os presentes eram septuagenários. Ambas as clínicas ficavam em Copacabana. Uma curiosidade: Copacabana é  o bairro com a maior quantidade de idosos do país. Quiçá do continente sul-americano. Portanto, o bairro perfeito para encontros extremos.

Copacabana também tem, na minha visão, o melhor banho de mar da Zona Sul do Rio. 

Mas a curtição daquela turma rolava em outras areias. Eles eram atletas de final de semana do vôlei de praia, no Leblon. Esses atletas costumam ser bem dispostos e disputam os lances como se estivessem numa competição oficial. Nesse período, o vôlei de quadra já tinha conquistado títulos importantes, e nas areias, a modalidade se arvorava. No verão, havia uma competição que trazia os campeões pelo mundo. Dois estadunidenses se tornaram os ‘reis do Rio’ por causa dos feitos na praia. Jogo de dupla. 

Marcelo era destemido, invocado. Sobretudo, um médico brilhante. Eis que numa tarde, um Domingo acalorado, ele se dedicava ao máximo no papel de atleta: levantava, cortava, bloqueava, xingava, resmungava, vibrava e... apagava. Sim, ele apagou. Desmaiou sem a menor cerimônia. Tentaram reanimá-lo, ali, nas areias mais íntimas de parte da sua vida. Não conseguiram. O oceano à espreita e o rapaz de braços abertos sobre o Corcovado preocupado...A praia em silêncio: ‘quatro oitavas’- alguém escutou. Iniciaram, finalmente, a remoção do ainda vivo colega de profissão. Eram todos médicos naquela rede de vôlei. Naquele início de tarde, primaveril. Certa vez, brincaram: ‘É a rede da máfia branca’.

O primeiro amarelinho a ser parado, um táxi, teve o motorista arrancado, clinicamente. Profilaticamente. Logo em seguida, a segunda vítima, sequestrada por outros homens de branco. Dizem que nesse segundo caso , o condutor oficial permaneceu e exerceu seu ofício. Levou a turma toda para Botafogo onde ficava o Hospital famoso. A turma de branco estava, na verdade, de pretinho. Essa era a cor do traje de gala: as sungas pretas.

Nunca antes na história dessa cidade, não sei se desse país (Diria o Presidente Lula), soube-se de um outro fato ocorrido dessa mesma ordem. Ou teria sido desordem? Algo próximo, análogo? Não se tem registro. O boletim de ocorrência comunicando sobre os sequestros e apropriações dos bens alheios, ainda que por escasso período de um tempo, a lembrar, sempre ficcional, não informava com clareza mínima o que havia se passado. Ainda que a causa tivesse sido a mais nobre. Os sungas pretas ( Hoje em dia ,tal como lembrou minhas prezadas colegas Aline Braz De Lima e Sueli Conceição , ‘Kids Pretos’ ) conseguiram ‘roubar’ os táxis, levar para ‘um role’ os amigos motoristas , e não satisfeitos , ( Um bando de sungas pretas gulosos) , invadir domicílios alheios. 

O mais relevante é que salvaram a vida do Marcelo. Ele desmaiou por causa do rompimento de um aneurisma cerebral. Aneurismas cerebrais podem ser assintomáticos. Logo, a pessoa jamais saberá que possui uma bomba dentro da cachola.  Viveu quase 90 anos. Ficou diferente, a bem esclarecer. Nada do ponto de vista cognitivo, comprometimento de memória ou algo assim. O temperamento é que mudou. E temperamento é algo dificílimo de se alterar. É de ordem primária, etológica. 

Qualquer um que tenha ou tenha tido cachorro, por exemplo, sabe disso. Vai se escolher o filhote daquela cria. Mesmo papai, mesma mamãe. Um é mais agitado, o irmãozinho é mais calmo. Já aquela, aquela acolá, é mais agressiva. Agora, vejam aquela outra da outra, essa mesma que acabou de se esconder no meu sonho, pode ser mais arredia. E isso se dá com uma espécie, também mamíferos, que não tem a metade ou muito mais do que isso da complexidade cerebral que a nossa possui. 

O pediatra ficou mais quieto. Havia um charme que desapareceu. Uma ironia discreta, chistosa. Tudo sumiu. Mas ele permanece muito vivo por aqui.

Marcelo, um médico