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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Na seca da Capital.

E na manhã desinteressante e ainda seca na capital do país a exalar melancolia dissimulada e a uma semana do pleito ( essa palavra é péssima e rima mais com uma outra que exala gases fedorentos), e cujo resultado pode acarretar em certo temor-terror para os próximos anos-, o amalucado do Tocantins - pode ser um estado de espírito- invadiu um hotel e sequestrou um cidadão. Conclamava o cumprimento da lei de ficha limpa. Acrescentou em seu programa de governo que se resolvesse o imbróglio envolvendo o bandido italiano, refugiado aqui, e o nosso governo.
Quando estive há 4 anos na Itália, nenhum italiano estava interessado no assunto. As Brigadas Vermelhas já tinham passado do ponto. Aldo Moro- o primeiro ministro assassinado pelo bando- não era flor para se contemplar na primavera que se aconchega.
Esse rapaz provavelmente estará em algum desses programas desesperados por audiência (Quem sabe um Novo Network, Rede de intrigas, 1976? Seria um novo Howard Beale? ( interpretado maravilhosamente por Peter Flnch e que recebeu o Oscar postumamente).
Podemos vê-lo sentado, bem comportado, dirigindo-se a sua mãe _ a quem escreveu uma carta_ na bancada do Jornal Nacional. Olhos lacrimejantes , A senhorita Poeta lhe dirá coisas maternais. Todo maluco tem mãe que adora cartas de amor. Incrível esse dado. Foi divulgado- tal fato- na data folha ou no Ibope. E no fim, o Bonner lhe dirá que ele tem apenas 5 minutos para nos dizer como resolver os problemas do país. Sem armas falsas ou bombinhas de estalinho. Tudo bem. Também gosto de minimalismos. Mondrian, aquela turma. Mas 5 minutos? O jornal leva meia-hora para não comunicar? Sei não. Pode ser explosivo. De fato.
E o maluco escapou por um triz! O Lutador Minotauro estava no Hotel. E ele lhe ordenou que saísse imediatamente. Quando recebi a notícia do sequestro, em 1978, do Aldo Moro, eu estava preocupado com a Emília, o Pedrinho, O Saci. Era Monteiro Lobato derrotando o minotauro de verdade.Aquele vizinho de Aristóteles, Platão....

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O prefeito não tem pai, Graciliano.

Graciliano Ramos, em 2013, fez sessenta anos de morto. Interessante como um morto tem o seu recorte e existência determinada. Celebra-se o nascimento, mas também o aniversário da sua morte. Essa última celebração ocorre mediante uma presença dolorida chamada saudade. Já as suas Vidas Secas rememoraram setenta anos de eternidade em 2008. A televisão resolveu homenagear Graciliano no ano de 2014. Teria sido pela aridez ou pela secura do clima? Um recorde nesse último verão, temporada 2013/14, e ao que tudo indica deve prosseguir. São Paulo, orgulho caipira do país ao olhos de um carioquismo provinciano, em pleno século XXI ( e tem gente que já conclama pelo 22), promove racionamento de água. Vale lembrar que estamos no Brasil. Não estamos no deserto chileno do Atacama. Mas com um bocadinho a mais de negligência , poderemos nos igualar. Metamorfose de palmeira - dos índios ou não- em cacto.
Graciliano também era alagoano feito Paulo Gracindo, feito Ledo Ivo. Foi prefeito de Palmeira dos Índios - cidade no interior do estado de Alagoas-, e administrou sua região com esferográfica de ferro. Seu pai, um velho coronel local, fora reclamar de alguma coisa e anunciou a sua pessoa imperial como pai do prefeito. E ouviu do ordenança da prefeitura a resposta seca, árida, feito o clima do sertão: ' O prefeito avisou que prefeito não tem pai'. 
O escritor-político foi membro do partidão. Como é sabido, o país tem pelo menos uns 3 partidos comunistas para um zilhão de outros religiosos. Nem a Albânia, maior contrabandista de tabaco do mundo, quiça Coréia do Norte- maior detentora de zumbis por metro cúbico-  tem tanto foice para pouco martelo por lá quanto por aqui se alavanca. Foi preso na Ilha Grande durante a ditadura do populista Vargas, Getúlio Vargas, presidente símbolo desse Brasil a ser reinventado, garantia que não ordenou a sua prisão , mas que também nada fez para que ele fosse solto. 
O autor das vidas secas era a favor de uma certa dose de censura à imprensa. Curioso. Dizia que textos mal escritos deveriam ser proibidos de ser publicados. Poderiam causas danos aos jovens leitores, novas gerações. Interessante. Talvez Graciliano ordenasse à mesma ordenança que fosse enviado um torpedo viral para esse modesto blog, agora umedecido pela garoa que faz dengo e cai devagarinho.. Aliás, como é divertido ser um tanto invisível.  Pode-se dizer as bobagens não caladas em certa prosa. A única bendita sacanagem é que ela pode se espalhar mundo a fora. E essa é a boa intenção e um alívio que a tecnologia nos oferece. E o grande risco também. Portanto, a tecnologia- esse espírito acolhedor e indiferente- apresenta certos mundos de  mentirinhas de fazer rir, porque bem arriscados. Imagina-se Diadorim ou Riobaldo- personagens de um Rosa versado também em sertões-, a teclar algoritmos cibernéticos? Suassuna implicaria. " Pra que tanta frescurice só pra contar mentiras"? Ainda mais naquela secura toda. E nem ao menos uma gota d'água para iludir as ideias.
E as ideias de Graciliano eram potentes, contundentes. Deve-se lembrar que o autor de Angústia- ele não era homem feliz feito zumbis guaranis e suas mucamas-  levava tempo infinito para canetar um parágrafo. Ele esculpia as letrinhas. Dizia de Amado, Jorge; ' Incrível como ele consegue escrever 170 páginas enquanto eu escrevo 17 linhas. Escreve como se fosse mijar'. Seria alguma rixa antiga oriunda do velho partido? Uma contenda de classe? Jorge foi o único escritor brasileiro a ganhar dinheiro nesse país. Tinha o partidão no suporte. E depois, um canal de concessão pública- uma emissora de televisão- a encenar suas Gabrielas e quetais. Jorge foi grande. Além do que, muito hábil nas atuações para sustentar os seus vínculos.Um outro coronel, ACM-Magalhães, político semi-dono do estado baiano ( aparentado ficcional de um coronel Jesuíno), era íntimo. Nunca o político de olhos claros e sorriso de Don Corleone, um godfather com sarapatel, mandou cortar as luzes de sua casa ou do bairro em que vivia e produzia sua vasta obra, por causa de algum entrevero acontecido. Mandava cortar, sim, as luzes dos adversários de urnas ou golpes. Lançava a patota alheia no colo da escuridão. Sob às bençãos dos orixás - mais de um senão perde-se voto, magia-  e regadas ao melhor dendê. ACM- que não se confunda essas letrinhas com qualquer abreviação ou sigla de empreiteira- era homem dadivoso e bastante religioso.
Já o escultor de letrinhas alagoano não tinha essa mesma habilidade e das igrejas não se aproximava de modo algum. Ou seria sinceridade por demais? Essa postura que mesclava e confundia rigor com rigidez? Mas isso pode ser deletério do ponto de vista das mediações afetivas. Afinal, vivemos de mentirinhas de fazer rir e chorar. Pra que tanto fricote? Já ensinou o pernambucano Suassuna. Ele, Vidas Secas, arrumava confusões. Era contemporâneo do seu haver. Tinha guerra mundial esparramada aos quatro cantos. 
Muita gente insiste que aquela primeira grande confusão datada- oficialmente de 1914 a 1918- não terminou até hoje. O que é bem provável, pois não há como apagar qualquer trauma que tenha se fixado. Uma vez marcado, marcado estará. E a marcação acontece porque havia predisposição para tal. O que se resta a fazer é administrar as consequências do estrago.
E administrar um câncer agressivo não foi possível para ele. O homem das vidas secas sofreu um bocado. Seu câncer foi uma mistura de exílio na bela Ilha Grande com probidade nos atos públicos , mais o preciosismo com as letras e falas, somado à morfina que lhe era ministrada pela filha apaixonada. Até hoje, vigora a paixão. Ela brilha Graciliano nos olhos. Nos últimos dias de agonia, presenciou o pai chamar pela mãe. A mãe dele, diga-se. Mãe morta e presente. Coisa fixada e que não se apaga. Está marcado.
Como num delírio, um sertanejo em busca de água para o seu poço fundo avista um ordenança arrastando-se pela terra seca feito lagarto que muda de cor. Seria miragem? O ordenança se aproxima com palmo de língua pra fora a lhe indicar o alvo a ser sugado. Cada um tem o GPS que pode. Repete então a reza com bastante cuidado para não fazer errado. Para que não lhe censurem o dito. Não espantem o espanto.Não lhe cubram o sol. Sua única luz. Entendeu, coronel?! Ofegante e quase morto. "Terei festa daqui a 50 anos? A celebrar minha existência que mais parece grão de areia"?- continuou com a reza. Ele consegue: 
' O prefeito mandou avisar que prefeito não tem pai'.


sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Um conhecidíssimo empresário carioca, morto há 10 anos mais ou menos e com quase 100 anos de idade, detestava se reunir para conversar sobre seus negócios, com a sua diretoria se houvesse mais de duas pessoas presentes. Não há concentração. Fica tudo mais ou menos disperso.Fica difícil gerenciar aquilo tudo com toda essa multidão. Ele dizia. Imaginem se esse mesmo empresário testemunhasse as reuniões ministeriais do ex-presidente sindicalista- um oráculo de massas- com mais de 250 mil ministérios a coordenar. Secretarias com status de ministério e por aí foi.Em alguns momentos não havia cadeira para todos os srs ministros pousarem seus traseiros oficiais. É uma espécie de Sarney Way of Life que se eterniza na política do país. O capitão do mato maranhense reiniciou a praticagem ao inchar a máquina estatal, até porque não existe cabo eleitoral mais fiel e fácil de se manobrar e retaliar. Quem diria? O velho senhor adotava algumas práticas comunas.E quem diria que o ator a reduzir esse número de ministérios drasticamente ( acho que eram 15) foi o amalucado- dentre outros adjetivos possíveis- do alagoano Collor. Aí é que ele ficou sem apoio algum no congresso. Congressista carnavalesco é muito sensível a essas reduções. Como diminuir o meu número de blocos e serpentinas? Fora o confisco da grana. Ele se achava um George Marshall. Aquele ex-secretário de estado dos USA, logo após a segunda guerra que completa 75 anos esse ano. A sua ministra da grana queria na verdade um casamento e filhos. Tão original esse querer vindo de muitas mulheres...Vindo sobremaneira de um Gozador. Afinal, era um Chaplin- Anísio- Coalhada-Painho. Fernando Sabino-escritor- que marcou minha vida num Encontro Marcado- dedicou-lhe- dedicado à moça que vive na estranja- uma longa prosa. Quase foi linchado pela opinião jornalística.O dia em que o hoje senador, Fernando Collor, desceu a rampa, expulso do poder por outros poderes, era o último dia do prazo para devolução da grana que tungou da população. Era algo em 1992. Significante mesmo é o dinheiro. Já ensinou Lacan.
Aliás, temos uma constituição parlamentarista em regime presidencialista e com federalismo de mentirinha. Não parece papo de psicótico não. É mesmo.
É quase certo, papo reto, que elegemos um quase rei, agora rainhas, ao invés de republicanos. Nunca escapamos da Casa Grande e da senzala, do patriarcalismo moreno. Um país tão jovem em sua cronologia e tão velho de posturas. E o tal empresário global era freudiano no que diz respeito ao tempo e suas ficções. Ele não reconhecia a idade quase centenária que atravessava. Pensava-se menino.