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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Um trem para uma estrela.

O metrô do Rio de Janeiro recebe um público diferente ,nas noites de Sábado.Ao que tudo indica , aos Domingos e feriados também.
Uma das características que podemos observar nos ditos sintomas esquizofrênicos é a extrema dificuldade em se lidar com a quantidade enorme de formações,de coisas ,que se apresentam e a quase impossibilidade em distinguir os seus diferentes níveis,as suas pertinências.São dados ditos de realidade ou não?Mas qual realidade,se as nossas fantasias são o que há de mais real?Nada tão real quanto o virtual!Esses caracteres digitados aqui são materiais também.Posso sentir os seus odores.
Não conseguir distinguir os níveis faz com que o esquizo se perca o tempo todo.E tudo o que há para ele é pura concretude.Não há deslocamento possível.É o que Magno Machado Dias chama dos diferentes níveis de reificação.Aquilo deixa de ser tão somente um teatro,uma metáfora construída e passa a ser concreto demais.Não se considera o fato de que foi produzido,articulado,mas que é um dado natural,espontâneo.Se você disser para o esquizo que fulano é uma mala,pode ocorrer que ele queira colocar algumas roupas dentro do tal fulano e carregá-lo para um aeroporto mais próximo.Mala é tão somente aquele objeto de carregar e portar coisas...até em viagens não muito distantes
.A labilidade que caracteriza qualquer língua ,e que nos faz modificá-la frequentemente,visto que não existe siginficante capaz de dizer tudo,de encerrar o papo e pronto!Não existe.Ainda bem
.Esse talvez seja o exemplo dado por um poeta.Ele estende as possibilidades de se dar sentido ao que quer que haja ,retirando-o,equivocando-o,através dos atos poéticos que não são somente palavras e verbetes.
Lacan sacou- assim como o gênio de Freud - que atrávés da língua ,do que chamou linguagem- e linguagem não se restringe à falação,poderíamos acessar o material do desejo nosso,recalcado e tornardo inconsciente,inacessível.A não ser através de algumas pegadinhas tais como: atos falhos,tropeços ou os sonhos tão confusos ou ainda sintomas mais diversos.E tudo tão diverso e confuso porque misturados feito festa de arromba.Feito esse texto.Feito esse trem de metrô.E quanto mais misturado e mais íntimo e mais desnudo mais um sonho que,por certo ,tornar-se-á pesadelo.
O problema é que Lacan- gênio do seu tempo e num país que afortunadamente respeita isso- estruturou demais o que é tão distendido.Ele fora leal a um certo freudismo e a filosofia que o cercava ( Hegel sobretudo e sua pretensão em dar conta de toda a história).E obviamente ,foi fidelíssimo aos linguistas de então.
E tampouco não é problema de personalidade múltipla,pois somos múltiplos.Estando esquizo ou não.De manhã tem até remela sonolenta.Já no decorrer do dia....
No decorrer do dia, pode-se pegar o metrô e contemplar essas novas cores,essa gente nova que eu ignorei por arrogância ou por receio.Sim,receio.Estou ficando velho.Igual a todo mundo.Igual a esse neném de saia curta que desfila venenos ,abraçada ao namorado com pinta de que não tem agenda de papel.De que não sabe que dia foi ontem.E eu sou de ontem também.E faço o que ele ainda faz e com algumas semanas à frente.E tenho agenda de papel. Pronto,falei.E adoro essa expressão que fora cunhada de uma princesa.Mas estou, rodrigueanamente e de fato,envelhecendo.E tem neném que subestimei,pois não respondia com outros significantes àquela solicitação que lhe fizera.E qual fora a solicitação?Um pedido para uma contradança?Uma salada mista?Quer dizer...Quem tem mais primaveras a contar beija-flores sabe o que significa salada mista!
Neném maldito.E cresceu e está linda!Filha da Puta!Aonde foi que cresceste?Quem foi o seu pediatra pederasta?
Todas as imagens e sons reunidos naquele trem moderno e cafona.E essa gente toda agasalhada pelo frio que vem lá de fora.Alguns dormem.Façamos silêncio,por favor.Mais uma estação.Mais uma leva de gente.Aquela outra parece sorrir para mim.Não.Ela é cega e se apóia numa bengala imaginária,porque real.E Lacan,João Maria,tinha razão.E nós também.Todo mundo tem um pouco de razão nessa maluquice cujo coração não se entende.
PIui,Piui,Piui....Onamatopéia do meu trem particular. E ele chega ao destino desejado.Desembarco e quase me perco.Porém,cheguei a salvo.Pragmático ,instalei-me.
O trem para àquela estrela cumpriu seu papel de trem.Êta trem bom!Taí a mineirice nossa deslocando dos trilhos os trens da falação.
E os sons de agora não me confundem ,encantam-me.Posso escutá-los um a um.E não me perco.Salvou-me novamente.