E a festa pecaminosa se aproxima.Todos na expectativa pela gula, pela soberba -contar vantagem sobre aquele parente que se fudeu ao longo do ano- ,pela mulher do próximo ,pela bebedeira sem fim.O ritual obsessivo dos cristãos não acaba e jamais acabará.Talvez daqui a umas 10 gerações quando essa mal-dita espécie estiver devidamente substituída ,e olha o arsenio aí, prometendo outras formas de vida, a festinha mude de ritmo.Certa vez,movido pela falta de análise , cujo nome é resistência e que presentifica imposturas,cheguei ao baile natalino. Casa arrumada, convidados vestidos com certa elegância - apesar do calor africano - e no primeiro contato familiar um míssil fora disparado.Bum!Bum!Solidariedade bélica.
Refeito do primeiro tiro ,estou sentado à beira de um abismo ,salvo contudo pela bebida que desloca formações deletérias na minha mente. Resolvo provocar. ' Pessoal: tenho uma "ótima" notícia para lhes dar.Ganhei na loteria!'
Antes que outro artefato explosivo me fosse lançado, percebi os olhares que mesclavam horror e ódio.Ali estava o espírito natalino de uma verdadeira família católica.O fato que enobrece tal reação ,houve.Chama-se sinceridade das ações.Os gestos ,olhares, sorrisos tristes,lábios trêmulos.De repente, uma voz murmurante:"Que mer.....ou melhor ,que bom para você".
Fiquei amedrontado, pois a tal voz estava ao lado e segurava um copo de whisky que balançava em crise de pânico na minha direção.Será que é porque eu não prometi nenhum presentinho?
Passados intermináveis dez minutos ,confessei-lhes."Gente ....eu estava brincando".
Risos, alegria, juras de amor e todos os sentimentos mais odientos emergiram contundente-mentes.
Naquele momento ,pude então constatar o quanto eu era querido pela nobre família, na noite de mais um Natal!De preferência ,ainda pobre.