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terça-feira, 2 de agosto de 2016

Um bairro nomeado às avessas. Ipanema.

Caminha-se. Camões? Caminha? Personagens fundamentais  no navegar de um certo descobrimento. Cartas. Epístolas. Dias, semanas. Por fim, o papel revelado e uma mera pretensão de que o pensamento pensado estaria sendo transcrito.
Contudo, hoje, o papel foi transformado numa espécie de metal cibernético. Não se escreve, digita-se. Tecla-se. E se arquiva, perpetua-se. Se esse condicional 'se' ganhasse jogo ou guerra não seria mais condicional. Cada um formaria seu império particular de diversidades infantis. E que por certo não haveria eterno. Nem mesmo o moderador 'se' explicaria.
Diante da tentação a atiçar pestes e afins ( peste nesse caso não é a peste x ou y. Y Pestis, por exemplo, era o DNA daquela doença que dizimou cerca de 25 milhões de pessoas no mundo, sobretudo na Europa, no século XIV: A Peste Negra), mas o nome próprio das crianças e suas malcriações; brincamos porque temos um tiquinho de saúde de um faz de conta e revertemos o tempo no imaginário das ilusões ao se aproximar de uma praça. Uma praça que se batizou da paz.
O centro dessa praça tem uma escultura. Exibe um homem que foi tomado por notoriedades. Ele carrega o  nome de Pinheiro Machado. Deve ter ascendência nas terras de Caminha. Nasceu, entretanto, nas terras dos pampas gaúchos e presidiu o Senado Federal, interinamente, na Velha República, início do século passado. Conservador.
O interino, o provisório, sempre se perpetuou por esses lados. O provisório também pode ser  conservador. Somos, assim, conservadores. A não ser quando as malcriações infantis se rebelam. Por isso rebeliões são , por vezes, deliciosas. Mas são raras. Rebelião é coisa, afinal, muito séria. Vejamos , enquanto douta referência, a trajetória dos pensantes, dos criadores, dos desbravadores. Achadores- existe isso fora desse texto?- daqueles que realizam achamentos. Feito os tataravós do ex-senador, Machado. ' Permite uma questão de ordem, nobre parlamentar? Tentaremos, pela brevidade do saco deveras cheio, atingir alguma lucidez':
'Como pensa essa destruição das nossas árvores centenárias - muitas de sua época, inclusive-, e a invasão bárbara que se pode antever, num local provincianamente pequeno, até mesmo recatado,  não fosse a rebeldia deliciosa dos vizinhos e descobridores Tom, Vinícius, Gabeira, Rubem Braga e o prefeito-perfeito, Millôr?' 
Silêncio de estátua. Silêncio de cobre.  Carranca de ferro. Meia-volta a se ver. Teria ido o monumento do ex-senador conspirar na igreja em frente e que leva o mesmo nome da tal praça?
Eis que o sol, aparentando cansaço, nessa época tipicamente carioca em que o inverno de 30 graus está misturado com o final do outono de 17 e um veranico de 38 à sombra, inicia o rito de um até mais. Mas debaixo de qual árvore, poderemos por uma brisa conclamar? Arrancaram tantas. Perguntamos à estrela de fogo: 'Caminhas?' "Sim. Através do vosso giro. Vossa consideração. Caso contrário, poderão se queimar. E não será através das minhas labaredas. A fogueira que produzo é de outra ordem. E não escolhe partido ou crença."
Nosso rebolado planetário de quadril. Era esse movimento ao qual se referia. E imbatível, pois feminino. Segundo nosso Millôr Fernandes- que agora postou-se definitivo, diante do mar do Arpoador, olhando para o Oeste. Por lá,  o sol armará seu repouso cotidiano, aos olhos sulistas desse hemisfério.
'Rápido antes que escureça. Não te cansas? Tanto tempo e o colocamos no mesmo percurso. Seria bom poder variar, alternar rotas. Falam em deslocamento do nosso eixo ... Uma cambalhota total. O que está em cima vai para baixo e vice-versa. Portanto, em que pedra de Arpoador iriam aplaudir sua despedida diária? Curioso. A virada é por aqui e a gente supõe que é de lá que vem. Só pelo fato de que há essa força de botar para baixo quem, ao menos, busca vencer a vida. Já que a morte é certa e não tem rosto. A insaciável e taradinha, gravidade. Sem mencionar o poder desse paparicado astro rei. Essa estrela fogosa. Além de conservadores somos afeitos a um carnaval de monarquias.Rei disso, rei daquilo.."
Eis que agora o vento deixa um rastro de que é melhor seguir o rumo, ainda que sem prumo. Imaginem o vento e o seu narcisismo de invisibilidades?
Passar pelo portão recém inaugurado, olhar para os lados do outro lado da mesma praça e notar que foram perdidas a infância e a adolescência. Tem umas crianças outras brincando de jogos presentes. Mas ainda resiste aquele aparelho de subir e escorregar de volta! E por quê? Por causa da insaciável força gravitacional. Desde sempre, botando pra baixo o que quer subir sem freio.
Desafiando os cruzamentos, esquinas de heroínas, piruetas gravíticas: primeiro a Joana. Depois, a Quitéria. Uma nobre Maria. E tudo isso diante do prédio atarracado,um lorde sem pedigree, protegido por aparelhos dessa nova era. Na esquina onde conspira um Barão com a sua Torre- em homenagem ao parente  muito distante e latifundiário, D'Ávila ou Garcia, filho de  Tomé de Souza. Papai tornou-se  o governador geral e deveras navegante Um detalhe: Barão da Torre e Visconde de Pirajá são o mesmo pela pena de caneta tinteiro de um Pedro Primeiro.
Portanto e para tanto, atravessa as ruas que foram e as avenidas que poderão advir o chamado estridente daquela tia. A tia mais antiga e presente de todas as tias.Silencia até mesmo a corneta- seu pedido- e o corneteiro que, por inverter o toque da corneta, virou monumento nos traços de uma adorável gaiatice carioca: Luís Lopes. O moço da corneta cristalizada, na transa entre um Visconde e um Garcia, e que vem a ser um outro herói às avessas. E porquê?
Ao invés do toque de retirada- um comando militar tradicional durante os combates entre tropas à essa época- mandou a tropa brasileira que, lutava e perdia para os portugueses a batalha de Pirajá, executar a ordem de 'avançar degolando'. Batalha ganha pela "independência" do Brasil. Brasil e suas dependências. Copa, cozinha, suíte,'wireless'.... Casa grande e ainda há senzala? Mas... E o estridente pedido-convite? O quê era mesmo?
' Carlos. Você não vem almoçar?Meu filho. Vem almoçar'.